ATA DA TRIGÉSIMA
SESSÃO SOLENE DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA
LEGISLATURA, EM 28.08.1998.
Aos vinte e oito dias
do mês de agosto do ano de mil novecentos e noventa e oito reuniu-se, na Sala
do Conselho Universitário da Escola de Engenharia da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul - UFRGS, a Câmara Municipal de Porto Alegre, nos termos do §
1º do artigo 7º do Regimento. Às dezessete horas e dez minutos, constatada a
existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da
presente Sessão, destinada à entrega do Prêmio de Ciência e Tecnologia Mário
Schenberg ao Professor Joaquim Blessmann, nos termos do Projeto de Resolução nº
09/98 (Processo nº 738/98), de autoria do Vereador João Dib. Compuseram a MESA:
o Vereador Luiz Braz, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Senhor
Jarbas Milititsky, Diretor da Escola de Engenharia da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul - UFRGS; o Professor Joaquim Blessmann, Homenageado; o
Vereador João Dib, na ocasião, Secretário “ad hoc”. Ainda, como extensão da
Mesa, foram registradas as presenças da Senhora Lygia Soares Blessmann, esposa
do Homenageado; da Senhora Virgínia Jardim, representante do Senhor Prefeito
Municipal de Porto Alegre; do Senhor José Carlos Ferraz Hennemann, Pró-Reitor
de Graduação e representante da Reitoria da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul - UFRGS; do Senhor Édisom Furtado, representante da Secretaria de
Ciência e Tecnologia do Estado do Rio Grande do Sul; de familiares, professores,
colegas, alunos e amigos do Homenageado. A seguir, o Senhor Presidente convidou
a todos para, em pé, ouvirem à execução do Hino Nacional, e, após, registrou a
realização, hoje, às dezoito horas, no Plenário Otávio Rocha da Câmara
Municipal de Porto Alegre, de palestra intitulada “A Construção do Brasil”, a
ser proferida pelo Senhor Thomas Skidmore. Em continuidade, o Senhor Presidente
concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador João
Dib, em nome das Bancadas do PPB, PT, PTB, PDT, PMDB, PSDB, PSB e PFL,
historiou fatos relativos à vida pessoal e profissional do Professor Joaquim
Blessmann, ressaltando o trabalho exercido pelo Homenageado na área da
Engenharia Civil, em especial quanto à realização de pesquisas voltadas ao desenvolvimento
da aerodinâmica das construções. O Vereador Lauro Hagemann, em nome da Bancada
do PPS, saudou o Professor Joaquim Blessmann, discorrendo sobre a importância
das atividades de pesquisa realizadas por Sua Senhoria e destacando a
determinação e o pioneirismo sempre demonstrados pelo Homenageado na realização
de estudos voltados ao desenvolvimento da área da Engenharia Civil. Em
continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Jarbas
Milititsky, que atestou a participação decisiva do Professor Joaquim Blessmann
no desenvolvimento da pesquisa científica no Estado, afirmando que as
atividades desenvolvidas pelo Homenageado constituem-se numa inestimável
colaboração para a concepção de novas tecnologias, viabilizando o aumento da
qualidade de vida das próximas gerações. Em continuidade, o Senhor Presidente
convidou o Vereador João Dib a proceder à entrega do Diploma referente ao
Prêmio de Ciência e Tecnologia Mário Schenberg ao Professor Joaquim Blessmann,
concedendo a palavra ao Homenageado, que agradeceu pelo Prêmio recebido. Após,
o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem à execução do
Hino Rio-Grandense e, nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos
e declarou encerrados os trabalhos às dezoito horas e cinco minutos, convocando
os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os
trabalhos foram presididos pelo Vereador Luiz Braz e secretariados pelo
Vereador João Dib, Secretário “ad hoc”. Do que eu, João Dib, Secretário “ad hoc”,
determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e
aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Luiz Braz): Damos por aberta a Sessão Solene da
Câmara Municipal de Porto Alegre destinada à entrega do Prêmio de Ciência e
Tecnologia Mário Schenberg ao Professor Joaquim Blessmann, de acordo com o PR
nº 09/98, proposição do Ver. João Dib.
Vamos
compor a Mesa, convidando o homenageado, Prof. Joaquim Blessmann; o Diretor da
Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Prof. Jarbas
Milititsky. Estão presentes o Vereador proponente, João Dib, e o Vereador Lauro
Hagemann, que vieram para prestigiar esta cerimônia. Aliás, é uma honra para
nós, da Câmara Municipal, estarmos aqui na Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, exatamente na sala do Conselho de Engenharia, nesta oportunidade tão
especial. Queremos agradecer tanto ao Conselho de Engenharia, como ao Ver. João
Dib, que nos proporciona esta oportunidade de trazermos a Câmara Municipal para
dentro da Universidade Federal.
Convidamos
a todos para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.
(Executa-se
o Hino Nacional.)
O SR. PRESIDENTE: Registramos a presença do Ver. João
Carlos Nedel. Nos orgulhamos de estar aqui para homenagearmos a quem se destaca
em nossa sociedade. Isso acontece através de um projeto do Ver. João Dib, que
homenageia o Dr. Joaquim Blessmann, num reconhecimento de toda a sociedade
porto-alegrense, representada pelos trinta e três Vereadores da Câmara
Municipal que aprovaram esse título.
Aproveito
esta oportunidade para dizer que hoje à noite a Câmara Municipal estará vivendo
um momento que nós gostaríamos que fosse compartilhado por todos. Teremos, a
partir das 20h, a palestra de um brasilianista, Thomas Skidmore, que estará
falando um pouco do que um homem dos Estados Unidos conhece sobre a história
brasileira. Nós gostaríamos que os Srs. estivessem presentes nesse
acontecimento que, certamente, vai reunir um grande público.
Passamos
a palavra ao Ver. João Dib, proponente da homenagem, que fala em nome das Bancadas
do PPB, PT, PTB, PDT, PSDB, PMDB, PSB e PFL.
O SR. JOÃO DIB: Excelentíssimo Sr. Presidente da Câmara
Municipal, Ver. Luiz Braz; caro Diretor da Escola de Engenharia, Prof. Jarbas
Milititsky; meu querido homenageado, Prof. Joaquim Blessmann, Srs. professores,
familiares de Joaquim Blessmann, Srs. Vereadores, pela segunda vez nos últimos
dois anos, a Câmara Municipal se desloca do seu Plenário para a Escola de
Engenharia, mostrando a importância que o Legislativo Municipal atribui à
Escola de Engenharia. A primeira vez foi na solenidade dos cem anos, e hoje,
numa cerimônia extremamente importante para nós, para homenagear com o Prêmio
de Ciência e Tecnologia Mário Schenberg um extraordinário professor desta Escola
centenária e que tem realizado muito pelo Rio Grande do Sul e pelo Brasil.
Os
professores são criaturas muito importantes nas nossas vidas; eles nos marcam.
E por isso hoje, quando o Prof. Joaquim Blessmann recebe esse prêmio, pela
primeira vez concedido pela Câmara Municipal, eu também me sinto homenageado.
Eu fui seu aluno e, sendo seu aluno, acompanhei sua trajetória ao longo do
tempo, como acompanho os meus outros professores - aqui está o meu querido
Professor Eurico Trindade Andrade Neves.
Eu
vejo, com orgulho, que o Prof. Joaquim Blessmann, pela sua dedicação, pela sua
competência, já fez com que o seu nome ultrapassasse as fronteiras do Rio
Grande do Sul e do Brasil, pela sua vontade de ser útil, pela sua vontade de
servir ao Brasil, de servir à engenharia, acreditando plenamente que ser
engenheiro é importante, porque é uma ciência que faz com que o mundo seja
melhor, que o mundo se desenvolva de forma mais ordenada e o progresso esteja
presente. Eu disse várias vezes lá na Câmara, que eu tinha dificuldade de
raciocinar como jurista, que eu não sou, mas que era mais fácil dizer que
engenheiro sabe que dois mais dois é igual a quatro e que não muda. Mas o Prof.
Joaquim Blessmann, pela sua experiência, pela sua dedicação, fez com que a
engenharia gaúcha tivesse prestígio. Por isso hoje, mostrando essa importância,
nós quisemos que a homenagem fosse prestada no local onde ele começou a sua
carreira de engenheiro, estudando, como a maioria dos engenheiros que estudou
aqui, e depois lecionando. Foi um professor que marcou presença junto aos
alunos e por isso eu me orgulho de ter sido seu aluno.
Nós
esperamos que o Prof. Joaquim Blessmann continue com o seu trabalho, oferecendo
aos seus alunos e aos seus colegas a sua experiência, a sua dedicação e o seu
carinho. Saúde e Paz! (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Nós queremos anunciar como extensão de
Mesa a Sra. Lygia Soares Blessmann, esposa do homenageado; a representante do
Sr. Prefeito Municipal, Sra. Virgínia Jardim; o representante da Reitoria da
UFRGS, Pró-Reitor de Pós-Graduação, Sr. José Carlos Ferraz Hennemann; o
representante da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado, Sr. Édisom
Furtado; familiares do homenageado, professores, colegas, alunos e amigos do
homenageado aqui presentes.
O
Ver. Lauro Hagemann está com a palavra, para falar em nome da Bancada do PPS.
O SR. LAURO HAGEMANN: (Saúda os componentes da Mesa e demais
presentes.) O Ver. João Dib, proponente desta homenagem agiu com muita
proficiência. Ele já disse, e eu repito: nós estamos aqui pela segunda vez em
dois anos, homenageando figuras destacadas da sociedade rio-grandense e,
particularmente, esta escola tradicional, que tem alavancado o progresso deste
Estado de forma extraordinária.
A
minha presença nesta solenidade se deve a um fato singular. O Prêmio de Ciência
e Tecnologia Mário Schenberg foi proposto por mim à Câmara Municipal, para ser
entregue a cada dois anos. Este é o primeiro prêmio Mário Schenberg que a Câmara outorga. E nós tivemos a preocupação
de escolher alguém que tivesse o peso suficiente para impulsionar os futuros
prêmios Mário Schengerg. E acredito
que tivemos muita sorte. O Ver. João Dib propôs o nome do Engenheiro Joaquim
Blessmann e ele foi acolhido com entusiasmo e por unanimidade da Casa, porque o
Professor Joaquim Blessmann tem um nome e um currículo que se prestam a
enobrecer essa arrancada inicial do prêmio Mário
Schenberg.
Mário
Schenberg foi um cientista brasileiro, um físico, atuou na Universidade de São
Paulo. Um homem conhecido não só nas hostes brasileiras mas também
internacionais. E ele foi escolhido como patrono desse prêmio pelo que
representou para a ciência e a tecnologia nacionais. Num momento em que o mundo
todo se volta para um processo de desenvolvimento organizado cientificamente,
tecnicamente, nós temos que acompanhar esse andamento. Porto Alegre é um dos
primeiros municípios do País a ter um Conselho de Ciência e Tecnologia. Não
significa, talvez, um passo gigantesco na direção desse objetivo, mas é uma sinalização
política de que nós estamos atentos para o desenvolvimento do mundo nessa
direção. Todos nós sabemos que o mundo do futuro vai ser o mundo da ciência, da
tecnologia, sobretudo o mundo do conhecimento. E se nós não tomarmos as
providências mínimas para reconhecermos e reestruturarmos a forma de difusão
desse conhecimento nós estaremos fadados a ficar marcando passo na história. O
Brasil não merece isso! Nós precisamos ter o discernimento de fortalecermos as
nossas instituições básicas de pesquisa, de ciência. Não o que está sendo feito
hoje. Precisamos revisar a atenção que o Estado deve dar a essa atividade. E
nós estamos aqui na Universidade, que é o lugar privilegiado para falarmos
sobre essas coisas.
Eu
não vou me alongar, apenas dizer que me é muito agradável falar nesta
solenidade, saudando o Prof. Joaquim Blessmann. E quero trazer a ele duas
mensagens especiais. Uma, do seu colega engenheiro, Ver. Guilherme Barbosa, que
me pediu que transmitisse, no discurso - e ele o fará pessoalmente - o seu
reconhecimento pelos conhecimentos que o Prof. Blessmann já estruturou e dos
quais ele se vale nos seus trabalhos. A outra é um abraço afetivo da minha
nora, Cristina Azambuja Hagemann, que não pôde concluir o doutorado por
questões de saúde, mas que é lembrada gratamente pelo Prof. Blessmann.
O
Município de Porto Alegre se sente honrado em ter o Prof. Joaquim Blessmann
como o primeiro agraciado com o Prêmio de Ciência e Tecnologia Mário Schenberg.
E nós esperamos que daqui a dois anos o exemplo de Joaquim Blessmann possa ser
seguido por outro notável cientista que venha a merecer a distinção do prêmio,
porque nós precisamos estruturar a concessão do prêmio Mário Schenberg na perspectiva de que ele seja o estimulador dessas
atividades que nós estamos hoje homenageando, não só na pessoa do Prof.
engenheiro Joaquim Blessmann, mas da própria Escola de Engenharia da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Parabéns Prof. Blessmann! E muito obrigado por ter nos permitido
esta homenagem. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Registramos a presença do Ver. Guilherme
Barbosa, da Bancada do PT, que é engenheiro, e também veio homenagear o Prof.
Blessmann, de quem foi aluno. Eu quero lembrar a todos que nós começamos a
viver, na Câmara Municipal, um momento de festividade. Estamos unindo esta
semana à semana que vem, já que, a partir de segunda-feira começam as
comemorações dos 225 anos de existência da Câmara Municipal. Então, essa
entrega do primeiro prêmio Mário
Schenberg está sendo feita num clima muito festivo para todos nós.
O Diretor da Escola de Engenharia da UFRGS, Prof. Jarbas Milititsky, está com a palavra.
O SR. JARBAS MILITITSKY: (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Para a Escola de Engenharia, a entrega deste prêmio, pela Câmara Municipal, a um integrante de seus quadros significa também um reconhecimento a tudo aquilo que a Escola de Engenharia fez ao longo de cento e dois anos.
Eu conheci o Prof. Blessmann na condição de seu aluno, nos idos de 1960, e naquela época o Prof. Blessmann carregava sozinho o estandarte da pesquisa dentro da Escola de Engenharia. Essa era uma época em que a atividade de pesquisa não constava das atividades corriqueiras dentro da Escola de Engenharia. O Prof. Blessmann foi o precursor e, como todo o precursor, a sua contribuição era entendida por alguns e mal-entendida por outros.
Eu tive a honra de
continuar a minha atividade profissional dentro da Escola de Engenharia,
entrando para o departamento no qual o Prof. Blessmann desenvolvia as suas
atividades. Era o Departamento de Engenharia Civil, onde eu tive a oportunidade
de conviver com o Prof. Blessmann. Isso era no final da década de 60 e a
pesquisa científica e tecnológica começava a acontecer dentro da Escola de
Engenharia. O primeiro indivíduo que se preocupou com pesquisa na Escola de
Engenharia foi o Prof. Blessmann. E o primeiro Doutor oriundo da Escola de
Engenharia também foi ele. Num certo período, nós trabalhamos no mesmo corredor
e o Prof. Blessmann era o colega de corredor que, em alguns momentos, eu visitava para ver os
belíssimos modelos do túnel,
que ele ensaiava; discutir alguns assuntos relativos à pesquisa e tomar um
cafezinho, já que o cafezinho do Prof. Blessmann era melhor do que aquele
servido no corredor.
Eu tive a oportunidade de viajar ao exterior e na década de 70, na Inglaterra, assistindo a um Seminário de Pesquisas, alguém relatando aspectos de aerodinâmica, disse que existia um determinado tipo de pesquisa que estaria fazendo lá na Inglaterra e que aquilo era uma novidade no mundo todo, pois praticamente não havia desenvolvimento do conhecimento naquela área. Terminada a palestra eu fui conversar com a pessoa, dizendo que tinha visto modelos como aquele no armário do meu colega de corredor. O pesquisador me perguntou de onde eu era e eu respondi que era do Brasil. Aí ele me olhou, de forma estranha, como que pensando: “um cara do Brasil vem contar essa história, de que o colega dele está desenvolvendo esse tipo de pesquisa”. Aí ele me perguntou: “Quem é o teu colega?” E eu respondi que era o Joaquim Blessmann. Ele disse: “Ah, o Prof. Blessmann? Ele é o único que tem trabalhos nessa área”. Então, os trabalhos básicos a respeito disso são do Prof. Blessmann. Até então, eu não tinha me dado conta da importância do meu colega de corredor, que tinha trabalhos reconhecidos internacionalmente e já, na época, fazia parte do corpo editorial da revista mais importante de aerodinâmica das construções.
Voltando ao Brasil, continuamos trabalhando no mesmo grupo e o Prof. Blessmann, nesse período, participou da construção de um programa de qualidade, da construção de uma cultura de pesquisa dentro da Escola de Engenharia, de forma pioneira. Ou seja, a contribuição do Prof. Blessmann não é simplesmente científica, ele, além de ter plantado árvores no sentido estrito, de ter tido filhos e netos, de ter escrito alguns livros, ele plantou algumas árvores do conhecimento. E certamente contribuiu de maneira muito mais intensa do que as pessoas que não conhecem a história da Escola de Engenharia, com relação ao futuro da engenharia no Estado, estabelecendo um padrão de qualidade. Padrão este que teve reconhecimento no ano passado, quando foi realizada uma conferência internacional, que foi o Jubileu do Túnel de Vento, em que autoridades do mundo inteiro contribuíram para a elaboração de um livro, publicado por uma editora holandesa, homenageando o Prof. Blessmann. É um reconhecimento internacional ao trabalho e à contribuição científica do Prof. Blessmann.
Eu não poderia terminar a minha manifestação sem relatar uma outra faceta do Prof. Blessmann, a qual todos os seus colegas admiram muito. Recordo-me que quando o Prof. Blessmann fez setenta anos, seus netos fizeram-lhe uma homenagem surpresa, na qual os colegas estavam presentes. Os netos fizeram apresentação daquilo que é típico dos netos oferecerem ao avô. Mas também tinha um bandoneonista, que tocou um tango - a outra paixão do professor - para que o homenageado dançasse com a companheira Lygia. Essa é uma faceta pouco conhecida do professor e que mostra a grandeza dessa pessoa.
Corroborando as palavras dos que me antecederam, certamente a outorga deste prêmio ao Prof. Blessmann qualifica o prêmio, uma vez que o reconhecimento ao Prof. Blessmann já é algo que está estabelecido. Eu gostaria de fazer votos de que os próximos outorgados tenham dado a contribuição que o Prof. Blessmann deu à sociedade do Rio Grande do Sul. É uma honra para a Escola de Engenharia receber, no seu ambiente máximo, que é a Sala do seu Conselho, esta homenagem a um de seus mais ilustres membros. Parabéns Prof. Blessmann! (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Solicito ao Ver. João Dib que faça a
entrega do Diploma ao homenageado. Esse Diploma é fruto de um Projeto de
Resolução apresentado na Câmara Municipal, aprovado pelos Vereadores, de
autoria do Ver. João Dib, (Palmas.), que confere o Prêmio Ciência e Tecnologia
Mário Schenberg ao Professor Joaquim Blessmann.
(É
feita a entrega do Diploma.)
Chegamos
ao momento culminante desta solenidade, porque todos aqui estão para homenagear
o Prof. Joaquim Blessmann por todas as suas qualidades, agora vamos ter o
prazer de ouvir o homenageado.
O
Sr. Joaquim Blessmann está com a palavra.
O SR. JOAQUIM BLESSMANN: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, (Saúda
os componentes da Mesa.) Creio que os que falaram a meu respeito foram levados
mais pelo coração do que pela mente, mais pela amizade do que pelos fatos
mesmos. Tanto falaram que estou achando que fiz algo de importante. Lembrando o
que disse o Prof. Jarbas, na Argentina, eles fazem um comentário parecido, só
que ao revés, lá eles dizem que a minha profissão é o tango e o meu hobby a
Engenharia.
Inicialmente
queremos apresentar nossos sinceros agradecimentos ao ilustre e eficiente
Vereador e colega, Eng. João Dib, que indicou-nos para receber tão honroso e
importante prêmio científico, o Prêmio de Ciência e Tecnologia Mário Schenberg
sendo esta a primeira vez em que ele é concedido. De igual modo agradecemos a
todos os demais Vereadores, que, por unanimidade, apoiaram tal iniciativa.
Consideramo-nos, ao receber este prêmio, como um representante de tantos
pesquisadores da nossa Universidade, os quais, com muito sacrifício de ordem
familiar e profissional, e enfrentando muitas dificuldades, dedicam boa parte
de suas vidas a uma pesquisa séria e produtiva, colaborando eficientemente para
o progresso da ciência e da tecnologia.
Gostaríamos
de tecer alguns comentários sobre as circunstâncias que envolveram as
atividades que nos levaram a receber este prêmio, atividades estas centradas na
pesquisa experimental. De nossa parte, diretamente, exigiu-nos conhecimentos e
muito trabalho.
Entretanto,
só conhecimentos e vontade de trabalhar não são suficientes, é necessário
também ter oportunidade para aplicar as aptidões pessoais, dentro das
limitações físicas e intelectuais próprias de cada pessoa. Jamais tivemos a
pretensão de sermos o melhor, de sobrepujar os colegas; procuramos simplesmente
desenvolver o nosso trabalho do melhor modo que nos era possível, sem preocupações
de compará-lo com os dos demais colegas, pensando em superá-los. Competição é
palavra que não define nosso modo de pensar e de agir; é mais apropriada a
palavra colaboração. Sim, cremos que colaboração é a palavra exata, quando
consideramos que o trabalho não só testemunha a dignidade do homem. É modo de
desenvolver a personalidade, é fonte de recursos para o sustento da família,
mas que também é vínculo de união com as outras pessoas, é um serviço e um meio
de contribuir para o progresso não só da sociedade em que se vive, mas, direta
ou indiretamente, para o progresso de toda a humanidade.
Falamos,
há pouco, em oportunidades para desenvolvermos nosso trabalho. No termo
oportunidade englobamos as condições familiares e as profissionais. Nas
condições familiares estão o sossego e a paz de espírito propiciados pelo
ambiente familiar, a compreensão da mulher e dos filhos, a aceitação das muitas
horas tiradas do convívio familiar. De minha mulher recebi não só a aceitação
da situação, mas também o apoio, e mais ainda, o estímulo, o incentivo, eu
diria mesmo alguns empurrões, sem os quais teria feito apenas parte do que
consegui fazer ao longo dos quarenta e oito anos de minha vida profissional. A meus
filhos, e especialmente à minha mulher, aqui apresento, de todo coração e com
toda a gratidão, o meu reconhecimento e meus agradecimentos.
No
que diz respeito às condições profissionais, também encontramos condições
favoráveis, além de algumas condições adversas. Entre as condições favoráveis
citamos as quatro pessoas que mais colaboraram para a construção do Túnel de
Vento de nossa Universidade, o primeiro da América do Sul, e por vinte e três
anos o único. São elas:
Prof.
Jacek Gorecki, já falecido, nosso orientador nos Cursos de Mestrado e Doutorado
no Instituto Tecnológico de Aeronáutica, e autor do Projeto do Túnel do Vento,
Projeto este que desenvolveu sem qualquer ônus para a Universidade.
Prof.
José Leite de Souza, então Diretor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da
UFRGS, que obteve financiamento junto ao CNPq, além dos recursos próprios desse
Instituto.
Prof.
Egídio Hervé Filho, na época Chefe da Divisão de Obras da Universidade, que se
encarregou da construção do pavilhão que abriga o Túnel do Vento.
Prof.
José Gomes Franco, o qual, como Coordenador do Curso de Pós Graduação em
Engenharia Civil da Escola de Engenharia da UFRGS, encarregou-se da reforma do
Túnel, em 1977, reforma esta que o deixou, naquela época, com características
de desempenho semelhantes às de muitos dos melhores então existentes em outros
países.
Também
é de se destacar a colaboração intensa, na década de 70, do Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), para aquisição de
equipamento, bem como a colaboração, nesta mesma década, do BNDE e FINEP.
Entretanto,
túnel e equipamento não são suficientes. Faz-se necessário apoio técnico da
melhor qualidade, para a construção de modelos e de equipamento eletrônico e
mecânico auxiliar, para a manutenção do equipamento, etc. Nos primeiros anos de
funcionamento do Túnel do Vento contamos com uma intensa e proveitosa
colaboração do Eng. Noro Pereira, na parte de modelos, e do Prof. Dari
Antoniolli, na parte de equipamento mecânico. E, desde o início, tivemos sempre
o apoio eficiente e entusiasta do técnico Paulo Francisco Bueno, em todas as atividades
de apoio técnico acima mencionadas. Quanto à manutenção de equipamento
eletrônico e, mais do que isso, ao projeto e construção de alguns aparelhos
eletrônicos, não podemos deixar de mencionar a sempre pronta, desinteressada e
competente atuação do Prof. Renato Machado de Brito.
Mencionamos
que tivemos algumas condições adversas, que poderiam ser resumidas em poucas
palavras: pouco caso, ou mesmo desprezo pelo trabalho de pesquisa.
Começamos
a trabalhar em pesquisa experimental em janeiro de 1960, em uma época na qual,
apesar de já existirem instituições dedicadas à pesquisa, esta não era vista
com bons olhos ou era simplesmente desconhecida por muitos de nossos colegas.
Citamos a seguir alguns fatos que comprovam o que acabamos de afirmar;
Duas
entidades de nosso Estado, ligadas à Engenharia, negaram-se a emprestar-nos
livros e revistas de suas Bibliotecas, os quais eram essenciais para nossas
pesquisas.
“Mestrado
e Doutorado? Isto para mim não tem valor”, disse-nos um colega, Professor de
nossa Escola de Engenharia. “Grande coisa.”, acrescentou outro, “ficar sentado
a estudar por alguns anos, sem nada produzir...”
“Mestre
em Ciências? O que é isso? É o mesmo que mestre de obras?” Pergunta um
professor ligado à administração da Escola de Engenharia, quando solicitamos o
registro do respectivo diploma, em 1963.
“Pesquisa?
Isto é desculpa para não dar aulas.”, comentam alguns professores. “Isso é
coisa de louco.”, retrucam outros.
E
não foi só naqueles tempos, não. Ainda neste ano, no projeto de aumento de
vencimentos para os professores das Universidades Federais, parte do reajuste
variaria com o número de aulas dadas somente na graduação, desvalorizando assim
não só a pesquisa mas também os Cursos de Extensão e a parte administrativa das
Universidades. Embora a lei que foi aprovada tenha admitido, em uma pontuação
máxima de cento e quarenta pontos, até sessenta pontos em atividades de
pesquisa e de extensão, ela prejudicará aqueles professores que queiram se
dedicar intensamente à pesquisa.
Tanto
o ensino, como a pesquisa são importantes em uma universidade, do mesmo modo
que a parte administrativa. É esta que fornece as condições necessárias para
que os professores, tanto ensinando como pesquisando ou administrando, possam
colaborar eficientemente para o desenvolvimento do conhecimento humano.
Da
mesma forma, demonstram descaso pela pesquisa pronunciamento de altas
autoridades federais que criticam a baixa relação entre alunos e professores
das Universidades Públicas, sem levar em conta que é nestas Universidades que
se faz a quase totalidade da pesquisa no Brasil, em um percentual de cerca de
90%.
A
relação aluno/professor é baixa porque muitos professores se dedicam quase que
exclusivamente à pesquisa. Também as horas dedicadas a Cursos de Extensão não
são computadas e influenciam desfavoravelmente nesta relação. Nós mesmos, nos
últimos anos, antes de nossa aposentadoria, fomos dispensados das aulas de
graduação, para nos dedicarmos intensamente à pesquisa, com apenas algumas
aulas no Curso de Pós Graduação em Engenharia Civil.
Contrariamente
a estas manifestações de autoridades federais, constatamos, com a máxima
satisfação, que a Câmara Municipal de Porto Alegre, ao instituir este Prêmio de
Ciência e Tecnologia, demonstrou uma percepção muito clara da importância da
pesquisa para o desenvolvimento não só científico, mas também tecnológico de
nossa Cidade, nosso Estado e nossa Nação.
Perdoem-nos
este desabafo sobre as condições desfavoráveis encontradas em parte de nossa
vida profissional, a qual até 1968, foi principalmente dedicada à engenharia
estrutural. Após esta data foi essencialmente dirigida à pesquisa experimental
aplicada, com apenas uma pequena atuação na pesquisa básica. É por isso que não
nos consideramos um pesquisador, mas sim um engenheiro que faz pesquisas, procurando
fornecer aos colegas informações úteis para sua vida profissional. Não sabemos
se nossa obra é digna de muito mérito e se realmente merecemos o prêmio que
estamos recebendo. O que podemos afirmar com certeza é que pusemos nela o
melhor de nossas limitadas capacidades, muito esforço e trabalho, cansaço e
desânimo, contrariedades e decepções, mas também muitas satisfações e alegrias.
Quanto a seu mérito, tomamos a liberdade de reproduzir aqui comentário que já
fizemos algures:
Disse
Alguém,: “Se um pintor pega um pincel e pinta um quadro, quem é o autor do
quadro: o pincel, ou o pintor?” Consideramo-nos como sendo um pincel. E quem é
o pintor? É aquele que nos concedeu os dons necessários a começar pelo dom da
vida, e mais ainda, entre tantos outros dons, a saúde, o gosto pelo estudo, o
entusiasmo pelo trabalho, as condições familiares e profissionais. A Ele, a
Deus, nosso Pai comum, todo o mérito e todo o nosso agradecimento. Muito
obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O
SR. PRESIDENTE: Nós,
neste momento, convidamos a todos para ouvirmos, em pé, o Hino Rio-Grandense.
(É executado o Hino Rio-Grandense.)
Agradecendo
a presença de todos, damos por encerrados os trabalhos da presente Sessão
Solene.
(Encerra-se a Sessão às 18h05min.)
* * * * *